domingo, 27 de setembro de 2009

DONA GLÓRIA CONVERSA COM MANCHA...


Vou continuar conversando com as pessoas que entendo terem sido importantes na fundação da Unidos de Jucutuquara, talvez eu não consiga passar a emoção que foi, fazer essa conversa com Dona Glória. Não percebí em nenhum momento uma colocação como dona da história, mas se colocou tão verdadeira e simples, que bem poderia dizer, essa história é minha.
MF- Dona Glória, como começou mesmo essa história?

D.Glória- Começou com os meninos aí que criaram "As lindas do Roque", eles se vestiam de mulher e iam para a cidade.

MF- E o Unidos de Jucutuquara?

D.Glória - Com o fim do bloco lá da Fonte Grande( Vou deixar cair), resolveram criar um bloco aquí. Ademir Matias, noivo de uma das filhas( Sônia), arrumou instrumentos usados lá no Alagoano. Guilherme e Tião Ladslau foram na Rural do pai de Tião buscar que trouxeram para reformar em minha casa.
MF- Como funcionou isso Dona Glória?

D.Glória-Foram seis anos dentro de minha casa, o bloco se fundiu com a família, as pessoas entravam pela porta da sala e saiam pela cozinha, os ensaios eram na minha porta.
MF- Dona Glória alegou ter esquecido de muitos detalhes, nos lampejos lembrava de partes que não seguem aquí, nenhuma ordem cronológica...então ela lembrou da criação da Ala de Baianas, como foi?

D.Glória - Inventei juntamente com Alarico, a Ala das baianas, depois marilene e Leida ficaram responsáveis.

MF- Dona Glória, a senhora lembra que costurava as peles que furavam? Quando eu batia, descia o quadradinho certinho...
D.Glória- Rsrsrsrsrsrs, eu fazia isso? Naquela época não tinha dinheiro para nada...

MF- Fala mais Dona Glória...

D.Glória - O Bloco quando saiu de minha porta foi para a showpana do Rio Branco, depois para o terreno de Máximo Varejão no Fradinhos...
MF- O que mais marcou a senhora nessa história de Jucutuquara?

D.Glória- O acidente com Mauro Guimarães, o pessoal tinha a mania de abrir o carnaval na madrugada, assim fizeram, não lembro o ano. Quando voltaram da Praça Oito, deixaram Mauro em casa, o mesmo recebeu informação de que os chapéus da bateria estavam no aeroporto, na mesma hora pegou o carro e saiu, batendo num poste próximo ao Santa Rita, perdendo a visão.

Essa conversa vai continuar, aguardem...

CONTINUANDO A CONVERSA ...30/09/09

MF-Dona Glória, como foi aquela história da retenção dos instrumentos?
D.Glória-A mulher de Mauro achou que o Bloco foi culpado pelo acidente, então prendeu os instrumentos. Foi um período de muita tristeza.
Foi preciso ir à justiça para recuperar os instrumentos, lembro que Kinkas foi nosso advogado.

MF- Devolveram tudo?

D.Glória - voltaram poucos instrumentos, amassados, furados, Lembro que Nelson Lara chorava muito. faltavam poucos dias para o carnaval,Jaciara fazia flores com papel de revistas, foi com que começamos a fazer rifas para comprar peles, fizemos rifas de frangos e de tudo que podímos. Recolhemos alimentos no morro, montamos uma cesta de alimentos e também rifamos, assim conseguimos comprar o que faltava para recomeçar.

MF- Qual é a diferença hoje dona Glória?

D.Glória- A Escola agora está grande, tem muita luz, espero que ela continue crescendo. As pessoas são mais felizes, embora existam problemas, são menores que no tempo de bloco.
O povo da Escola, não reconhece quem criou o bloco,acham que a história é descolada.

MF- Quer falar sobre isso?

D.Glória- O que Jucutuquara é hoje, foi plantado nos tempos de bloco, que desceu de tamaco para começar sua história...
Sinto saudades da ala das crianças que Sônia criou, e o carinho que tinha com as crianças,hoje adultas, umas fazendo parte da Escola,outras vivendo suas vidas, seguiram seus destinos.

MF- Jucutuquara é uma Escola de sucesso, porque se fala tanto no Bloco?

D.Glória - O bloco foi criado para animar Jucutuquara,lembro que o bloco tinha que parar frente à casa de Tia Mulata e Dejanira Lima ( Tia Deja). Os meninos do Rio Branco, todos desfilavam no bloco. Tia Maria Coroa foi outra pessoa que batalhou pelo bloco.
MF- O que ficou gravado na mente?
D.Glória - O carnaval que me marcou, foi o Deusa Erótica...devido ao sufoco que passamos para não deixar o bloco morrer e, chegar onde está hoje.
Adilson( Ditão) foi o primeiro mestre de bateria.
Quero que Deus ilumine a todos e que continuem fazendo Jucutuquara crecer.

MF- Dona Glória encerra a conversa num tom de agradecimento a todos que vêm trabalhando para manter a Escola acesa e na vanguarda do carnaval Capixaba.

Obrigado Dona Glória.

2 comentários:

  1. Parabéns Mancha pela entrevista com a Dona Glória. Simplesmente emocionante!
    As sábias palavras de nossa matriarca são de uma ternura, pureza e ao mesmo tempo de uma sapiência que só os anos um dia nos darão.

    Armando Chafik

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  2. Dione Ferolla Varejão1 de outubro de 2009 às 18:38

    Incrível ler a entrevista de Dona Glória e como disse Armando é emocionante! Em cada linha há amor e respeito. Essa história jamais será apagada. O sucesso de hoje é determinado por cada pedacinho do passado, foram esses pedacinhos que compuseram a grandiosidade de agora. Mancha, feliz idéia de fazer a entrevista - isto é documento, rapaz!!!

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